domingo, 13 de março de 2011

Terremoto do Japão deixou o dia mais curto, diz Nasa


Assim como tremores do Chile e da Sumatra, abalo acelerou rotação da Terra em microssegundos

O terremoto de magnitude 8,9 na escala Richter que atingiu o Japão nesta sexta-feira, 11, acelerou a rotação da Terra e encurtou a duração dos dias no planeta em 1,6 microssegundos, de acordo com o geofísico Richard Gross, da Agência Espacial Americana (Nasa).
A alteração na rotação terrestre ocorreu também com os terremotos do Chile, no ano passado, e da Sumatra, em 2004. A constatação sobre o tremor chileno, de magnitude 9,0, foi de um grupo de cientistas do Laboratório da Nasa na Califórnia. Segundo eles, os dias passaram a ter 1,26 microssegundos a menos. Já o abalo da Sumatra, também de magnitude 9,0, causou uma aceleração de 6,8 microssegundos.
Assim, com esses três últimos terremotos, os dias na Terra estão 9,66 microssegundos mais curtos. As alterações, porém, provavelmente não são sentidas, umas vez que cada microssegundo equivale a um milionésimo de segundo. A mudança ocorre, segundo a Nasa, porque um terremoto de grande magnitude é capaz de fazer com que parte da massa do planeta aproxime-se do eixo do globo.
O sismo desta sexta foi o maior já registrado no Japão desde que os tremores começaram a ser registrados, há 140 anos e o sétimo pior da história. O abalo principal aconteceu às 2h46 de Brasília, com epicentro a 130 quilômetros de Sendal, na ilha de Honshu, e com profundidade de 24,4 quilômetros, na mesma região onde há dois dias ocorreu um terremoto de 7,3 graus que não deixou vítimas.
É altamente provável que reator nuclear esteja derretendo, diz agência japonesa


A Agência de Segurança Nuclear do Japão afirmou ser “altamente provável” que esteja ocorrendo o derretimento do reator número 1 da usina nuclear Daiichi, na cidade de Fukushima, nordeste do Japão, após os danos causados pelo violento terremoto seguido de tsunami na sexta-feira, 11.
Às 15h36 na hora local deste sábado (3h36 em Brasília), os muros e o teto da usina caíram em meio a várias colunas de fumaça. Houve vazamento radioativo e quatro funcionários se feriram levemente. Segundo a imprensa japonesa, a explosão ocorreu quando uma equipe tentava esfriar o reator nuclear número 1.
A Agência de Segurança Nuclear do Japão informou que liberou "vapores radioativos" para reduzir a pressão dentro do reator, que continua o dobro da normal. Medições detectaram radiação oito vezes maior que a usual nas redondezas da usina e mil vezes maior que a normal dentro da sala de controle do reator 1. A central nuclear Daiichi é operada pela companhia de geração de energia Tokio Electric Power Co (Tepco) e fica a 250 quilômetros ao norte de Tóquio.
Cerca de 46 mil moradores em um raio de dez quilômetros da usina foram retirados emergencialmente de suas casas e transportados para lugares seguros. Porém, segundo a rede NHK, no momento da explosão ainda havia cerca de 800 pessoas nas redondezas, algumas delas idosas.
O governo japonês pediu calma à população e disse que atuará como se o pior tivesse ocorrido na hora de ajudar os moradores. Tamém afirmou que vai ampliar de três para dez quilômetros o raio de evacuação da usina nuclear número 2 de Fukushima, situada a dez quilômetros da primeira e também afetada pelo terremoto.
Entenda
A Tepco está tentando esfriar o núcleo do reator após um apagão incomum na usina - a perda total da energia necessária para manter a água circulando pelas máquinas para evitar o superaquecimento.
Os reatores das unidades 1, 2 e 3 da usina Daiichi se desligaram automaticamente às 14h26 (hora local) devido ao terremoto. Porém, cerca de uma hora depois, os geradores de segurança a diesel também se desligaram, deixando os reatores sem uma fonte de energia alternativa.
Tal apagão é "uma das mais graves ocorrências que podem atingir uma usina nuclear", segundo especialistas do grupo de supervisão nuclear "Union of Concerned Scientists", baseado nos EUA. "Se toda a eletricidade alternativa é desligada, as opções para refrigerar o núcleo ficam limitadas", advertiu o grupo.
Os reatores da usina Daiichi continuam a funcionar sem eletricidade alternativa, pois são impulsionados por vapor e, portanto, não requerem bombas elétricas. Mas precisam de eletricidade direta de baterias para que suas válvulas e controles funcionem.
Se a energia das baterias se esgota antes do restabelecimento do fornecimento alternativo de eletricidade, a usina deixaria de bombear água e o nível de água de esfriamento no núcleo do reator pode baixar.
Prejuízos
O Japão confronta na manhã deste sábado a devastação provocada pelo terremoto e o tsunami de sexta-feira na sua costa nordeste, onde ainda há incêndios e cidades parcialmente submersas. Pelo menos 574 pessoas morreram - autoridades afirmam que o número deve passar de 1.300 -, 784 estão desaparecidas e 1.128 se feriram.
O amanhecer revelou boa parte da extensão dos danos causados pelo tremor de magnitude 8,9 e pelo tsunami de dez metros de altura que varreu vilarejos e cidades.
Em uma das áreas residenciais mais atingidas, era possível escutar pessoas soterradas sob os escombros, pedindo socorro e perguntando quando seriam resgatadas, segundo relato da agência de notícias Kyodo.
Ajuda. Pelo menos 45 países - inclusive China e EUA - já ofereceram ajuda ao Japão nas tarefas de busca e resgate de vítimas.
"Trata-se provavelmente de uma operação humanitária de proporções épicas," escreveu em um comentário Sheila Smith, especialista em Japão da entidade norte-americana Conselho de Relações Exteriores.
No nordeste do Japão, a cidade de Kesennuma, com 74 mil habitantes, sofre incêndios descontrolados, e um terço da sua área está submersa, segundo relato feito na manhã de sábado pela agência de notícias Jiji.
Em Sendai, cidade com 1 milhão de habitantes, o aeroporto está em chamas depois de ser inundado pelo tsunami, acrescentou a agência.
Na sexta-feira, imagens de TV mostraram uma veloz torrente de água barrenta arrastando carros e destruindo casas nos arredores de Sendai, 300 quilômetros a nordeste de Tóquio. No cais, navios foram arremessados para a terra e ficaram virados de lado.
No norte do Japão, um tsunami atingiu a cidade de Kamaichi, e apesar de ter sido de pequenas dimensões atirou barcos, carros e caminhões como se fossem de brinquedo. A Kyodo disse que quatro trens na zona costeira ficaram incomunicáveis.
O primeiro-ministro Naoto Kan disse a políticos que eles precisam "salvar o país" após o desastre, que segundo ele causou danos profundos em toda a faixa norte do país.
Mortos. A imprensa japonesa acredita que mais de mil pessoas morreram. Aparentemente, as pessoas morreram afogadas. A dimensão dos danos ao longo de uma extensa faixa costeira e o grande número de desaparecidos indicam que o número de mortos pode aumentar.
Mesmo para um país acostumado a terremotos, a devastação era impressionante.
"Uma grande área da cidade de Sendai perto do litoral está inundada. Ouvimos que pessoas que foram retiradas estão presas", disse Rie Sugimoto, repórter da TV NHK em Sendai.
"Cerca de 140 pessoas, incluindo crianças, foram levadas para uma escola e estão no telhado mas estão cercadas por água e não têm para onde ir".
O terremoto, o maior desde que o Japão iniciou seus registros há 140 anos, provocou incêndios em pelo menos 80 lugares, segundo a agência de notícias Kyodo.
Outras usinas nucleares e refinarias de petróleo foram paralisadas, e havia fogo em uma refinaria e numa grande siderúrgica. O terremoto no Japão foi o quinto mais forte do mundo no último século.
"O prédio sacudiu por bastante tempo e muitas pessoas na redação pegaram seus capacetes e se esconderam debaixo da mesa", disse a correspondente da Reuters em Tóquio Linda Sieg.
"Isso foi provavelmente o pior que eu já vivi desde que vim morar no Japão há mais de 20 anos", afirmou.

Nenhum comentário: