quarta-feira, 19 de janeiro de 2011
Dilma, um novo estilo no Planalto
Em 20 dias no Palácio do Planalto, Dilma Rousseff já imprimiu seu estilo: na gestão, ela vai no detalhe. A preocupação é o que ela chama de “melhorar a qualidade do gasto público” e no dia a dia do governo, o cumprimento de uma carga horária de mais de dez horas por dia – com uma parada para um lanchinho no meio da tarde. Os ministros contam que Dilma não se contenta com uma resposta genérica às perguntas que faz sobre os problemas que vão surgindo. Ela quer saber o que motivou aquela decisão.
- O histórico da decisão não a convence; é preciso dizer o porquê desta ou daquela decisão, revela um auxiliar.
A esta altura do governo, Dilma quer cortar gastos e já ordenou uma espécie de “pente fino” na folha de pagamento da União. O Ministério do Planejamento já começou a “congelar” cargos de confiança em vários ministérios. Essas vagas vão ficar à disposição do governo para quando for necessário nomear um gestor para um ou outro ministério.
Ao contrário de Lula que de tudo falava e diariamente discursava, Dilma é mais recatada. Esta semana, por exemplo, se deixou fotografar apenas uma vez – quando recebeu em audiência do vice-presidente do Banco Mundial, Otaviano Canuto. Ela tem usado a maior parte do seu tempo para conversar com ministros.
Para os ministros, fica claro que Dilma tem um roteiro de gestão a cumprir, e este roteiro é focado na questão econômica, inicialmente. Além do corte de gastos, a presidente pretende dar início à discussão sobre uma reforma tributária já no início dos trabalhos do Congresso. Um grupo de trabalho foi criado para fazer estudos sobre a reforma tributária, mas a decisão política é a de que ela será enviada ao Congresso por partes.
- O maior problema é a discussão sobre cobrança de impostos na origem ou no destino. Se é assim, por que não podemos discutir a unificação do ICMS ou a desoneração da folha de pagamento? – questiona um ministro, revelando a preocupação da presidente Dilma.
Ao mesmo tempo, a questão cambial não sai da cabeça da presidente. Para ela, as empresas brasileiras precisam ter uma compensação tributária neste momento de real valorizado. O Brasil, observa um auxiliar, tem sido um importante destino de investidores e não há interesse em mexer nisso. “Mas não é possível que o investidor nacional seja penalizado enquanto liberamos para os investimentos estrangeiros”. É preciso equilibrar isso, diz fonte do governo.
Dilma Rousseff quer negociar com a China melhores condições para os produtos brasileiros – dado que o Brasil é exportador de alimentos, commodities e, logo mais de petróleo – mas quer exportar também produtos manufaturados. Ela não fala em sobretaxar produtos, mas quer negociação. “Somos bons parceiros da China; mas temos muito o que interessa a ela”, disse um auxiliar.
No governo Dilma nada é feito “porque sempre foi assim”. Ela quer saber a razão e, segundo um ministro, ela acha que deve estar aberta a crítica. “Olhos e ouvidos bem abertos”, disse ela, segundo um auxiliar, até porque, disse, pode haver razão para isso e alguma coisa pode ser corrigida.
Na política, Dilma avalia que terá de ceder aos partidos aliados em questões importantes na negociação de projetos e na nomeação de cargos, mas, segundo disse um ministro, a orientação é não abrir mão da qualificação técnica dos indicados – um desejo manifestado por todos os governantes, mas nem sempre preservado em função da necessidade de manter a coesão da base parlamentar.
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