A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) começou a testar nesta quarta-feira 
(24) uma forma inovadora de combater a dengue na cidade do Rio de 
Janeiro. Mosquitos modificados em laboratório foram liberados nesta 
manhã no bairro de Tubiacanga, na Ilha do Governador, zona norte, onde 
moram 3 mil pessoas.
 Semanalmente serão liberados aproximadamente 10.000 Aedes aegypti 
infectados com a bactéria Wolbachia, encontrada no meio ambiente e capaz
 de impedir a transmissão da dengue pelo mosquito. Na primeira fase do 
projeto, iniciado há dois anos, os pesquisadores monitoraram a população
 de mosquitos na região com o apoio dos moradores do bairro.
 A pesquisa com os mosquitos mutantes começou na Austrália, em 2009, por
 uma iniciativa sem fins lucrativos que integra o Programa Eliminate 
Dengue: Our Challenge, traduzido para Eliminar a Dengue: Desafio Brasil.
 O líder da pesquisa no país, Luciano Moreira, explicou que a 
expectativa é de que, até o final do ano, toda população de Aedes 
aegypti seja infectada pela Wobachia e esteja livre do vírus da dengue 
em Tubiacanga. As liberações serão feitas por aproximadamente três ou 
quatro meses e vai depender dos resultados sobre a capacidade dos 
mosquitos com Wolbachia de se instalarem no local.
 — Quando essa bactéria é colocada no Aedes aegypti, ela bloqueia o 
vírus da dengue. Precisaremos de aproximadamente um a dois anos para 
constatar se realmente houve redução do número de casos.
 Para reduzir o incômodo da população e não alterar o número de 
mosquitos no bairro após a liberação dos mutantes, os criadouros de 
Aedes aegypti no local foram destruídos.
 — É um projeto natural, autossustentável, pois a partir do momento em 
que o mosquito se estabelece naquela área, ele fica por lá. Na 
Austrália, soltaram os mosquitos por dez semanas em 2011 e até hoje, em 
duas localidades, os mosquitos estão 100% com a bactéria.
 Moreira ao ressaltou que para obter um estudo mais detalhado será 
necessário ampliar a área da pesquisa. Outras três localidades estão 
sendo monitoradas para futuras liberações de mosquitos: Urca, na zona 
sul; Vila Valqueire, na zona norte e Jurujuba, em Niterói, região 
metropolitana.
 — São áreas que têm a presença do mosquito o ano todo, casos de dengue:
 umas muito populosas, outras pouco, umas com muita vegetação e outras 
com pouca vegetação. Estamos trabalhando com as pessoas que vivem nessas
 localidades, respondendo às perguntas, explicando sobre o projeto para 
termos apoio.
 Durante o mapeamento da população de mosquitos, foram instaladas 
armadilhas para capturar e estudar os insetos na casa de dezenas de 
moradores.
 Se os resultados forem positivos, o Ministério da Saúde pretende expandir o projeto para outras áreas do Brasil, explicou.
 Moreira participou do início do projeto na Austrália em 2009, quando 
descobriu com outros pesquisadores a capacidade da Wolbachia de reduzir a
 transmissão do vírus da dengue pelo mosquito. Durante cinco anos, 
membros da equipe do programa de lá alimentaram uma colônia de mosquitos
 com Wolbachia usando, voluntariamente, os próprios braços. Isso 
resultou em centenas de milhares de picadas de mosquitos sem que reações
 à bactéria fossem detectadas. A pesquisa também está sendo realizada no
 Vietnã e na Indonésia.
 Os testes de campo no Brasil foram aprovados pela Anvisa (Agência 
Nacional de Vigilância Sanitária), pelo Ibama (Instituto Brasileiro de 
Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis), pelo Ministério da 
Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pela Conep (Comissão 
Nacional de Ética em Pesquisa) após rigorosa avaliação sobre a segurança
 para a saúde e para o meio ambiente.
 Além do financiamento da Fiocruz, pelo Ministério da Saúde, o projeto 
brasileiro também recebe verbas do Ministério da Ciência, Tecnologia e 
Inovação e do CNPq. As secretarias municipais de Saúde de Niterói e do 
Rio atuam como parceiras locais na implantação do projeto.
 A Wolbachia está presente em cerca de 60% dos insetos no mundo, 
incluindo diverss espécies de mosquitos, como o pernilongo, sem risco 
para a saúde humana ou o ambiente. É uma bactéria intracelular, 
transmitida de mãe para filho no processo de reprodução dos mosquitos e 
não durante a picada do Aedes em um ser humano.R7