Gaeco denuncia 45 por fraudes na 13ª Ciretran

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) ofereceu denúncia contra 45 pessoas envolvidas em esquema de fraudes para a concessão e renovação de carteiras de habilitação na 13ª Ciretran de Maringá.

Após cinco meses de investigações e mais de 500 horas de escutas telefônicas, o Gaeco conseguiu provas de que o esquema funcionava mediante propinas em dinheiro ou trocas de pequenos favores, como o repasse de carne para churrascos.

A denúncia aponta que o esquema seria comandado pelo funcionário público do Detran Aldair Fernandes da Silva, o Daco, que teria influencia na aprovação dos candidatos que o procuravam "tanto nas provas escritas, como nos exames físico e mental, e nas avaliações psicológicas".

De acordo com o promotor, tudo era feito com a conivência e envolvimento de funcionários do Detran, de funcionários ou responsáveis das clínicas credenciadas ao Detran-PR, e mediante a conivência e a omissão dolosa de profissionais liberais da área médica e psicológica dessas empresas durante os procedimentos de aplicação, avaliação e correção dos testes e exames.

As 45 pessoas foram denunciadas pelos crimes de corrupção ativa e passiva, advocacia administrativa, falsidade ideológica e inserção de dados falsos em sistema de informações. Para o promotor do Gaeco em Maringá, Laércio Januário de Almeida, os casos mais graves são a renovação da CNH de um analfabeto e de motoristas profissionais que não passaram em testes psicológicos, mas foram aprovados.

"Demonstra uma banalização dos serviços do Detran. A corrupção variava de simples favores, até altas importâncias em dinheiro", afirma Almeida.

Carne x fraude

Entre os 28 condutores que se beneficiaram do esquema, um deles precisou apenas ir ao açougue para garantir que o pedido de facilitação para a renovação da carteira fosse atendido pelo funcionário do Detran.

Consta na denúncia que o autor do esquema "dolosamente recebeu vantagem indevida, qual seja, 8 kg de carne, já que, conforme adiantou o denunciado Juarez, era aniversário de um parente do Daco e a carne bancaria um churrasco".

O denunciado tinha sérios problemas de locomoção que "interfeririam na sua condição para dirigir veículos".

O Detran, através da assessoria de imprensa, informou na tarde de ontem que não iria se manifestar. Procurado pela reportagem, o principal acusado, Aldair Fernandes da Silva, não foi localizado. O vice-prefeito de Ourizona, Amarildo Luiz Vieira, o Lulinha (DEM), afirmou ontem que não deve nada e que a inclusão de seu nome na denúncia se deve à amizade que tinha com um funcionário do Detran.

"Fui fazer um favor para um amigo que precisava de um escritório para baixar multa. Tem vários que fazem isto em Maringá."

O diretor de uma clínica conveniada ao Detran, Hamilton Bregola, preferiu não se manifestar, assim como o médico Antônio Carlos Pupulin. O médico Edson Luiz Consalter de Melo não retornou as ligações da reportagem, assim como Valdemício Silva de Souza, diretor de autoescola.

Diálogos entre os supeitos

DACO – ... é eu só vou precisar de uma cópia da habilitação dele, entendeu, tipo assim, o cara que faz o acompanhamento tudo, você pode ficar sossegado. Isso tem um prazo agora até 01 de junho, vai dar mais ou menos, vai sair mais ou menos uns 400 paus essa porra aí...

PAULO – 400 contos?

DACO – é, ajuda?

PAULO – não tem problema

DACO – então se você tiver já a cópia

PAULO – não eu ligo para ele agora a tarde, mando ele passar um fax para mim ou mando ele tirar um xérox.

DACO – ele mora onde?

PAULO – ele mora aqui em Maringá.

DACO – então daí vai precisar de uma assinatura dele, a não ser que a gente faz um visto por ele

DACO – a não ser que a gente faz um visto por ele, no requerimento.

PAULO – é né. Aí tira esse negócio dele aí, da cassação da carteira?

DACO – é, não daí ele não vai entregar esse trem agora não, 4 ou 5 anos depois desse tempo pede prescrição e some com esse trem. Ele já tinha um recurso ganho né?

PAULO – eu acho que sim.

DACO – eu tirei tudo aqui depois eu te mostro.

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AMARILDO – o ‘Daco’ tô aqui com o João um amigo nosso aqui da Prefeitura, veio uma notificação para ele entregar a carteira dele cara.

DACO – nada, entrega não – deixa eu te falar esse negócio de entregar a carteira para o Toninho é fria... sabe o que o João faz lá bicho? cobra 600 pau.

AMARILDO – então eu mando o cara falar com você?

DACO – esse negocio aí a gente faz aqui, eu faço, eu pego um salarinho também, mesma coisa que ele faz lá entendeu.

AMARILDO – só que o cara é carreteiro, não pode perder a carteira.

DACO – então melhor ainda.

AMARILDO – só que eu vou mandar ele falar com você agora.

DACO – é mas quietinho, não vem gritando não".
O Diario