segunda-feira, 27 de setembro de 2010

No futuro, dieta será sob medida

Novo campo do conhecimento, a nutrigenômica analisa o DNA de cada pessoa e indica quais alimentos evitar para ter vida saudável.

Esqueça as dietas da moda. O frango com salada que enxugou as medidas de muita gente pode não ser tão benéfico para você. É que a singularidade biológica dos organismos, determinada pelo DNA, faz com que o efeito dos nutrientes seja diferente em cada corpo. É o princípio da nutrigenômica, área do conhecimento que começa a ganhar força no Brasil.
A partir de hoje, especialistas nacionais e internacionais promovem o maior fórum de discussão sobre o tema no País: o Congresso Internacional de Nutrigenômica, no Guarujá.
A agência sanitária americana, Food and Drug Administration (FDA), criou até uma divisão para pesquisar a nutrigenômica. Para os cientistas, essa proposta, que faz a ponte entre comida e genética, revolucionará o conceito de alimentação saudável. Isso não significa que gordura ou sal em excesso possam um dia ser considerados bons para a saúde. Mas que todo profissional terá de levar em conta aspectos mais complexos que o número de calorias ao prescrever uma dieta. Será preciso ter um olhar detalhado para o DNA do paciente.
A nutrigenômica também pode atuar na prevenção e no tratamento de doenças crônicas não transmissíveis, como problemas cardiovasculares, diabete, obesidade e câncer. É a grande aposta dos pesquisadores. Isso porque os genes não são estáticos: sofrem interferências da alimentação e são suscetíveis aos fatores do meio ambiente, como poluição e radiação solar.
A idéia é investigar como os nutrientes e os compostos presentes nos alimentos afetam os genes - tanto na recuperação dos tecidos quanto no ataque à saúde. Será possível, por exemplo, controlar esses mecanismos pelo simples ato de comer ou deixar de ingerir o alimento cuja propriedade atue diretamente sobre o gene envolvido no desenvolvimento de uma determinada doença.
A evolução da nutrigenômica tem relação com a decodificação do genoma humano. "Descobriu-se que somos 99,9% parecidos e 0,1% diferentes. Mas essas diferenças fazem com que cada pessoa responda de modo diferente aos mesmos estímulos", afirma a professora da Universidade Estadual Paulista (Unesp) Lúcia Regina Ribeiro, coordenadora da Rede Brasileira e Latino-Americana de Nutrigenômica - única instituição nacional especializada na temática.
As diferenças genéticas podem explicar porque nem todos conseguem baixar o colesterol reduzindo o consumo de gordura. Nesse caso, tudo depende do código genético que cada corpo tem para a proteína responsável pela absorção do colesterol. "Os alimentos certos vão até o DNA e ligam o interruptor da saúde e desligam o da doença", explica a nutricionista Sandra Melo, doutora em Ciência dos Alimentos pela Universidade de São Paulo (USP) e uma das pioneiras no estudo da nutrigenômica no País.
Coordenadora do Laboratório de Biologia Molecular do Setor de Lípides da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a cardiologista Maria Cristina Izar crê que os dogmas da nutrição devem cair por terra com o avanço desse ramo. "Hoje se diz que tantas gramas de fibras por dia são ideais em qualquer dieta, como se todos tivessem a mesma resposta a esse alimento. Quando não se conhece a composição dos genes, há a tendência de padronizar condutas, o que nem sempre funciona", avalia.
Berço. Para os pesquisadores, outra revolução é que a alimentação correta pode vir desde o berço. "Seria possível saber que, se ele evitasse determinado nutriente, poderia não se tornar diabético", diz Maria.
Dentro de alguns anos, crêem os especialistas, não haverá espaço para dietas generalistas. "Cada paciente terá uma intervenção mais específica", diz Thomas Ong, professor do Laboratório de Dieta, Nutrição e Câncer, da USP. "No futuro, alguns pontos vão permanecer gerais na nutrição, como o corte do excesso de açúcar refinado, mas vai apontar também quem deve tomar mais cuidado com o sal ou o excesso de gorduras", conclui.

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