Responsável pelas ações militares da Al-Qaeda, o paquistanês Ilyas Kashmiri é hoje o terrorista que mais preocupa a Europa e os Estados Unidos
O simbolismo de Osama Bin Laden para o terrorismo global ainda faz dele o homem mais procurado do mundo. Mas na estrutura de poder do grupo terrorista Al-Qaeda há um nome que, atualmente, vem causando mais preocupação aos serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Europa. Trata-se de Muhammad Ilyas Kashmiri, de 46 anos, nascido na parte paquistanesa da região da Caxemira (daí o nome de guerra). Como um dos chefes militares, Kashmiri ocuparia hoje o terceiro posto na hierarquia da Al-Qaeda, atrás apenas de Bin Laden e do egípcio Ayman al-Zawahiri. Ele teria a capacidade de fazer algo que Bin Laden sempre propagandeou como um de seus objetivos: arregimentar radicais islâmicos em cidades europeias e americanas e convencê-los a empreender ataques nos locais onde vivem.
A mais recente ameaça da Al-Qaeda contra o Ocidente, no fim de outubro, pode ter passado pelo planejamento de Kashmiri. Duas cargas com explosivos, embarcados em aviões de carga que partiram do Iêmen, foram interceptadas pela polícia nos aeroportos de East Midlands, no interior da Inglaterra, e de Dubai, nos Emirados Árabes. O destino das encomendas, segundo a polícia, eram “instituições religiosas” de Chicago – provavelmente sinagogas. No aeroporto inglês, havia no pacote suspeito uma impressora. O cartucho de tinta estava cheio de PETN, um pó branco que é um poderoso explosivo químico, e seria detonado por meio de um celular.
O PETN é o mesmo material detectado no artefato que o nigeriano Umar Farouk Abdulmutallab usou para tentar explodir um avião a caminho de Detroit, nos EUA, no Natal do ano passado. A polícia acusa o saudita Ibrahim al-Asiri, escondido no Iêmen, de ter montado os explosivos nos dois ataques frustrados.
As suspeitas sobre Kashmiri aumentam porque é justamente em Chicago, o destino das bombas do mês passado, que viviam seus contatos nos EUA. Um deles era Daood Gilani, americano de pai paquistanês que trocou seu nome para David Headley. Preso em 2009 e condenado à prisão perpétua, foi acusado de ajudar a planejar os múltiplos ataques a Mumbai em 2008, quando 173 pessoas morreram. Também estaria por trás do atentado à sede do jornal dinamarquês Jyllands-Posten, que em 2005 publicou caricaturas do profeta Maomé. Quem o financiava era o empresário paquistanês Tahawur Rana, também preso. Headley teria ido ao menos duas vezes ao Waziristão do Norte, uma região do Paquistão perto da fronteira com o Afeganistão, para receber instruções de Kashmiri. O terrorista teria dado ainda orientação ao paquistanês Raja Khan, também residente em Chicago, sobre a melhor forma de explodir um estádio lotado. Khan foi detido em março, acusado de enviar dinheiro para instituições ligadas à Al-Qaeda.
A confiança de Bin Laden em Kashmiri se reflete no fato de que ele é o único não árabe a participar das reuniões de cúpula da Al-Qaeda, à qual se integrou em 2005. Antes, comandava o Movimento de Resistência Islâmica, grupo terrorista com atuação no Paquistão, em Bangladesh e na Índia. Assim como Bin Laden, Kashmiri lutou contra os soviéticos no Afeganistão nos anos 80, o que lhe custou o olho esquerdo e um dedo. Depois, lutou contra a Índia pela independência da Caxemira. Na Al-Qaeda, ele comanda a “Brigada 313”, uma divisão militar cujo nome remete ao número de combatentes reunidos por Maomé na batalha de Badr, no ano de 624. Kashmiri foi dado como morto em 2009, após um ataque de mísseis da Otan no Waziristão. Mas escapou, supostamente porque foi urinar fora de casa na hora do bombardeio. Semanas depois, aparentemente para comprovar que estava vivo, deu uma entrevista ao jornal Asia Times. E mostrou por que entrou na lista de “terroristas globais” dos EUA: “ (O ataque a Mumbai) não foi nada comparado ao que tem sido planejado para o futuro”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário