quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Idosos em bancos universitários

Projeto da Universidade Estadual de Maringá vai além do voluntariado de professores e inclui alunos com mais de 60 anos na rotina universitária
Segunda-feira cedinho e Arnaldo já está de pé. Toma o café da manhã com a família, separa caderno e caneta e sai de casa para estudar. Na sala de aula, ele cumprimenta Valdir, sentado quieto no canto; Tereza, compenetrada nas anotações; João, cochichando algo engraçado com os colegas. A professora dá as boas-vindas e inicia uma nova discussão com os alunos. No quadro, palavras como razão, pensamento e movimento estimulam o debate.

O que parece ser uma simples turma de colégio ou faculdade guarda uma peculiaridade: todos no recinto têm mais de 55 anos. A aula desta manhã também não é comum: "O papel dos avós na educação dos netos". O curso faz parte da Universidade Aberta da Terceira Idade (Unati), projeto desenvolvido pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) que, desde março, oferece uma série de opções de aulas (como horta, filosofia e informática), levando os idosos de volta às carteiras escolares.
De acordo com a coordenadora pedagógica da Unati, Regina Taan, os cursos não são profissionalizantes. "Não estamos formando competências para atender o mercado. As pessoas aqui querem estar de uma forma mais integrada e confortável com o mundo que elas vivem. É o desejo de aprender", explicou Regina.

Um dos estudantes é Arnaldo Coelho, de 73 anos. Mineiro, a fala mansa não revela a personalidade forte. Durante anos alimentou o desejo de retomar os estudos. "Já havia lido sobre a Unati do Rio de Janeiro. Desde então, desejei participar de uma universidade. Quando soube que aqui seria instalado o projeto, corri em busca de conhecimento e relacionamento ", diz o pioneiro, que chegou em Maringá em 1954.
Sentada perto do colega está Lourdes Machado, de 63 anos, que encontrou na Unati uma fórmula para se relacionar melhor com as três filhas e duas netas, uma de 11 e outra com 9 anos de idade. "Tive uma educação diferente da de hoje. Eu tinha de me adaptar ao mundo delas para ver onde que estou errando", explica.
Para ela, percorrer os corredores e blocos da UEM como estudante é algo sonhado há muito tempo. "Sempre quis fazer uma faculdade, mas foi um sonho que parou pelo meio do caminho. Aqui, me sinto um pouquinho universitária". Perguntada sobre o que o marido achava da Unati, afirmou aos risos: "Ele dá apoio total, mas também se não desse, deixava ele em um canto e vinha para a aula".
Gazeta do Povo

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