quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Mãe de Luciano Pezão pede ao filho para se entregar


“Se entrega, meu filho. É melhor ser preso do que ser morto.” Este apelo foi feito, ontem, pela mãe de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, chefe do tráfico de drogas no Complexo do Alemão. Dona Josefa Martiniano, de 59 anos, pediu para o filho bandido e foragido se entregar à polícia. Ela teme perdê-lo para sempre. 


— Não tenho esperança de ver o Pé (como é chamado pelos parentes) de novo porque essa vida dele não tem nenhuma saída — afirmou. 



Há 38 anos, Josefa veio de Bananeiras, a 140Km de João Pessoa, na Paraíba. Casou-se e formou a família, na favela. Tem cinco filhos e 16 netos. Ela cria dois filhos de Pezão há sete anos. O traficante tem outro, mas com a segunda mulher. A matriarca dos Martiniano garantiu que não fala com o criminoso há duas semanas, quando conversou com ele, pessoalmente, por 15 minutos. Apesar do desespero, ela lavou as mãos quanto à entrada do chefe do Alemão, no mundo do crime, há 17 anos. Segundo Josefa, “foi ele que escolheu a vida do tráfico.” 



— Estou derrotada. Minha boca está seca, não tô comendo mais. Eu boto um pouquinho de água na boca e tomo remédio pra ver se eu melhoro. Se pudesse, pegaria ele pelo braço e levaria até a delegacia. Eu entregaria o meu filho. Falo isso e falo firme. Eu não escolhi isso. Agora, ele está nas mãos de Deus. Não posso fazer nada. Só Jesus pode — lamentou a mãe. 



Monitorada pela polícia

A dona de casa reclamou que sua família vem sendo ameaçada por policiais. Só no último domingo, ela diz ter sido interrogada seis vezes. 


— Eles vêm, reviram tudo e batem nas paredes. Já disse para os policiais. Eu não tenho contato com o Pé. Minha casa é simples. Não tenho vaidade, não tem nada aqui dentro — argumentou.

'A UPP vai ensinar o bem às crianças’


Josefa afirmou também que, nos últimos quatro dias, recebeu 15 visitas de policiais civis, militares e federais. Em uma das revistas, a casa de Hernani Martiniano da Silva, irmão de Pezão, foi revirada. Um quarto com dois espaços independentes está, completamente, bagunçado, com roupas e pertences pessoais jogados no chão. O armário teve duas portas quebradas. Hernani trabalha como gari e mora, assim como um dos irmãos, no mesmo terreno da casa da mãe, na Rua Antônio Rêgo, Favela Pedra do Sapo.

— Não tenho nada contra a polícia. Muito pelo contrário, Meu sonho é ver uma UPP, aqui, no Alemão. Só não pode esculachar gente honesta, que não tem culpa de ter um parente procurado pela Justiça — reclamou a mãe de Luciano Pezão.

Dona Josefa Martiniano disse ainda que, quando o conjunto de favelas receber uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), a vida será melhor para todos.

— Falei pra minha neta: “Minha filha, eles vão vir, botar vocês pra estudar, brincar, vão arrumar brinquedo pra vocês”. Se a UPP entrar, vai ensinar o bem às crianças, mas, enquanto tiver essa agonia, não vamos ter sossego e as pessoas vão falar mal de todos os policiais por causa de alguns errados — disse.

Pezão tem 17 anotações criminais por homicídio, tráfico de drogas, associação para o tráfico e roubo. Na noite de 9 de julho de 2009, ele comandou, por telefone, a morte do agente de endemias da Prefeitura Júlio Baptista Almeida Silva, de 29 anos, confundido com um estuprador.  GLOBO

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