domingo, 22 de maio de 2011

Templo Gay: maioria da Igreja da Comunidade é homossexual

"Não é que nós sejamos uma igreja gay, mas a maioria de nossos frequentadores é homossexual. Nossa missão é trazer uma mensagem de fé, para que todos da comunidade LGBT possam entender que são aceitos na igreja como filhos de Deus." Assim, o pastor Célio Camargo, ele próprio homossexual, define a Igreja da Comunidade Metropolitana (ICM), da qual faz parte desde 2004. Vindo de Umuarama, onde mantinha um grupo de oração da ICM, ele mora em Maringá desde fevereiro, comandando o processo de implantação do que será a primeira igreja ativista LGBT do Paraná.
Desde quinta-feira, o líder da ICM no Brasil, reverendo Cristiano Valério, está em Maringá para acompanhar a implantação da igreja e participar da Caminhada da Diversidade (ver box). Cultos da ICM já estão sendo realizados na casa de Camargo, com cerca de 20 participantes regulares. A igreja negocia doação de terreno da prefeitura para estabelecer sua sede; caso não consiga, vai alugar um imóvel.
Camargo veio a Maringá por convite do secretário Paulo Henrique de Oliveira, 22, que procurava uma igreja que o aceitasse em sua condição de homossexual. Quando ficou sabendo da ICM, contatou o pastor, que em abril de 2010 deu início a um grupo de estudos e orações em Maringá. "Desde criança sempre fui religioso. Mas me julgavam e condenavam em outras igrejas. Pesquisando a ICM, me encontrei", diz Oliveira.
O grupo de orações cresceu e levou Camargo a se estabelecer definitivamente em Maringá. Os cultos hoje são realizados aos domingos, a partir das 19h30, sempre na casa do pastor, contando também com a presença de heterossexuais simpatizantes da causa LGBT.
A ICM foi fundada nos Estados Unidos, em 1968, e tem 13 unidades no Brasil. A igreja se considera ecumênica, aceitando pessoas de diferentes fés cristãs. Na liturgia do culto, os católicos recebem a hóstia como o corpo de Cristo, assim como nas missas.
Preconceito
Camargo conta que durante muitos anos sofreu com preconceitos pela sua orientação sexual, tendo chegado a tentar o suicídio. Depois de sobreviver, afirma ter percebido que Deus o ama como é e que a homossexualidade não é doença.
O pastor diz que muitas pessoas usam versículos isolados da Bíblia para afirmar que a fé cristã não é compatível com a homossexualidade, mas a significação dessas passagens deve ser vista dentro de um contexto, buscando se estudar como, por que e para quem foram escritas.
"No mesmo livro da Bíblia, há passagens falando que pessoas com deficiência não devem chegar perto do altar, que filhos rebeldes devem ser mortos a pancadas, que semear dois tipos de semente num mesmo canteiro é abominável... Por que só falam do homossexual? É uma questão de época, cultura e tradução", considera o pastor.

Por aí
60mil casais homossexuais foram encontrados no Censo 2010, segundo o IBGE.
5mil pessoas participaram de passeata contra homofobia em Brasíl

André Simões

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