sexta-feira, 15 de junho de 2012

Endividado, consumidor reduz procura por crédito


O brasileiro nunca deveu tanto como agora. Segundo o dado mais recente do Banco Central, relativo a março, o endividamento das famílias brasileiras com o sistema financeiro atingiu 42,95% da renda acumulada em 12 meses – o maior nível da série histórica, iniciada em 2005. Além disso, todo mês, pelo menos 25% da renda das famílias está comprometida com o pagamento de prestações – há sete anos, o porcentual era de 15,6%.
O crédito farto, o emprego em alta e a confiança na economia fizeram com que as famílias fossem às compras com apetite, mas esse movimento já dá sinais de saturação – a procura por crédito vem perdendo fôlego. Segundo a Serasa Experian, no acumulado dos primeiros cinco meses de 2012 a demanda do consumidor por crédito foi 7,6% menor que a verificada no mesmo período de 2011.As famílias, em geral, estão esperando quitar alguns financiamentos para só então passar a contrair novos compromissos. E os bancos, preocupados com a inadimplência, também estão mais seletivos na concessão de financiamentos.
Casa em ordem
“A procura por crédito vem caindo desde novembro do ano passado. O consumidor se empolgou com o crédito, se endividou em 2010 e ficou inadimplente em 2011. A reorganização financeira ainda vai levar algum tempo”, diz Luiz Rabi, economista da Serasa Experian.
Parte das famílias brasileiras já está superendividada. Cerca de 23% delas – aproximadamente 14 milhões de famílias – já comprometem mais de um terço da renda mensal para pagar dívidas, segundo estudo da consultoria MB Associados. O limite “saudável”, segundo analistas, é de 30%, já que em média 70% dos gastos das famílias servem para despesas fixas – alimentação, habitação, transporte, higiene, saúde e educação.
De acordo com a projeção, que usou como base os dados da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do IBGE, a situação mais complicada está nas classes C, D e E, em que 12,4 milhões de famílias gastam mais de um terço da renda com prestações. De acordo com a MB, nessas classes as despesas fixas têm peso maior – de 65% na classe C e de 88% nas classes D e E –, o que ajuda a complicar as contas no fim do mês.
Inadimplência
O orçamento apertado ajudou a inflar a inadimplência, que ficou em 7,6% entre as pessoas físicas em abril. São cerca de R$ 39 bilhões em contas com atrasos acima de 90 dias. O calote no setor automotivo atingiu a marca recorde de 5,9% em abril.
“A nova classe C tomou crédito com voracidade, mas não tem ativos financeiros e nem poupança para fazer frente a situações de emergência”, lembra Marcelo Curado, professor de Economia da Universidade Federal do Para­ná (UFPR).
Pelo menos dois fatores ajudam a explicar o aumento do calote. No ano passado, o orçamento familiar foi pressionado pela inflação alta, que comprometeu principalmente preços de serviços, como alimentação fora de casa, colégios, aluguel. Além disso, a população se endividou com empréstimos mais caros, como o do cartão de crédito e do cheque especial.
“Isso mostra que o consumidor ainda não tem uma percepção clara das taxas de juros praticadas nas diversas modalidades. Usar esse recurso com frequência pode deixar a dívida impagável”, diz Curado.
Uma pesquisa da Serasa Experian realizada com inadimplentes em março mostrou que 60% deles tinham prestações em atraso cujo valor era superior à renda mensal deles.Gazeta Maringá

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